sexta-feira, 3 de abril de 2009

Uma História Fabulosa (parte 2/2)


Não que muita gente tenha se comovido com a parte 1, mas aí vai.
E agora entra a parte realmente fabulosa.





Estávamos, eu, a velhinha, as milhares de páginas e o mestre de budismo dela. As meninas xerocaram o extrato da mãe, foram embora. A velhinha acendeu um cigarro, deu um trago olhando pela janela, apagou e se sentou de novo frente a furadeira.

- Bom, então ele estava fugindo, né. E foi indo para o Oriente. Quando ele chegou no Tibet, um grupo de monges acolheu eles, porque eles são assim né, acolhem, não estão preocupados se a polícia está atrás, sabiam que eles tinham feito a coisa certa. Então ele ficou lá, e passou a viver com os monges e fazer a rotina deles, estudar e meditar o dia todo.
Mas ele começou a ficar com muitas saudades de casa. E ficava lembrando daquela árvore, como que chama? Aquela árvore que dá a pêra... Ah! Uma pereira que tinha no quintal da casa dele quando ele era criança. E sempre ele se lembrava dessa árvore e ficava muito triste, queria voltar pra casa.
Um dia o mestre veio pra ele e perguntou “você está com saudades de casa. né?” “Estou sim.” E então o mestre juntou as duas mãos dele, e quando abriu, tinha uma flor de pera, a mesma que ele ficava pensando! Ele não conseguia nem acreditar!

- Nossa, como assim?

- È pra você ver, como a gente usa muito pouco da nossa capacidade cerebral, a gente nem sabe de que coisas a gente é capaz. Os monges sabem. E o monge disse “você pode voltar pra casa agora”.
Ele veio pro Brasil e o exército deu proteção pra ele. No prédio que ele morava, morava militar na frente, em cima e em baixo, pra garantir que ele estaria salvo.

E meus álbuns ficando prontos, todos muito bonitos.

- Foi nessa época que tive aulas com ele. Tinha se tornado um homem iluminado.

- E o que aconteceu com ele?

- Casou com uma mulher muito chata e briguenta e foi ganhando de volta todos os vícios e problemas que a gente tem. Se perdeu.

- Que pena! E como ele está hoje?

- Ah, hoje já morreu, faz muitos anos já. Ele passou muita dor, muita fome, isso deixa marcas no corpo, né.

- Mas que pena ele ter arranjado essa esposa chata aí!

- Ai, nem me fale...

E me trouxe os álbuns, eu paguei, desejei uma boa noite e fui embora. Não estava entendendo nada, não sabia se o que tinha acabado de acontecer era real. Estava bem no lusco-fusco, e nesse horário eu não enxergo nada. Um mendigo passou por mim e gritou rindo “você já morreu!” e eu fiquei na dúvida que talvez ele tivesse razão.

Não sei se a velhinha conseguiria inventar uma história tão boa, ou memorizar trechos de filmes e juntá-los, ainda mais com este final anticlímax, só deixa tudo mais misterioso.

Mas que ela sabia contar uma boa história, isso não há dúvidas. Certamente não fiz justiça com ela, neste relato.

Espero que ela esteja bem.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ah, a fuga das obrigações...

...Sempre um deleite...

Eu sou um bebê elefante, e tenho dito.


Uma História Fabulosa (parte 1/2)


Vou contar uma história que eu ouvi, e que quando eu conto e as pessoas não acreditam.

Faz algum tempo, eu tinha em mãos uma enorme pilha de papéis com fotos grudadas neles, e que, encadernados, viriam a ser o meu álbum de viagem à Índia, Nepal e China.

A história começa quando eu fui atrás de um lugar para efetivar esta encadernação e descobri que, nas férias, as papelarias e gráficas ficam preguiçosas. Fui em uma, duas três... Todas fechadas para balanço, devido ao recesso escolar, ou porque quando eu me dispus a fazer isso, estava começando a anoitecer. Só que eu queria muito o meu lindo álbum, pra poder mostrar pras pessoas onde eu tinha ido. Logo, continuei andando e procurando.

Numa livraria já meio vagabunda, me indicaram que na sobreloja de umas duas casinhas adiante, tinha um lugar de xerox e encadernação. Lá fui eu, sem muita fé.

Subi as escadas de madeira escura e pouco iluminadas da tal sobreloja para dar num muquifo de fórmica rachada e jornal velho. O lugar era amarelo. Porque amarelou com o tempo. E no meio dele tinha uma velhinha chinesa fumando um cigarro.

A chance de estragar as milhares de folhas cuidadosamente coladas parecia grande, mas como eu disse, eu queria muito encadernar aquilo logo. Seriam três álbuns.

A velhinha apagou o cigarro e veio me atender. Pelo cuidado com que ela pegava as folhas e as separava, fiquei tranqüila que ia sair certinho. E me pus a ler o mural de tirinhas do lado do balcão.

- Nossa, foi você que tirou essas fotos?

- Foi sim.

E me perguntou quando eu tinha ido, pra que cidades, quanto tempo, o que eu tinha achado.

- Eu fiz aula de budismo muitos anos. Meu professor passou por esses lugares aqui que você foi.
Fura, junta, fura, fura, espirala.
- Ele era professor de química no Mackenzie. Isso faz muito tempo, né. Aí uma empresa americana chamou ele pra trabalhar lá nos Estados Unidos, nos projetos do governo, e ele foi. No lugar que ele trabalhava, tinha gente de todos os países, mas de repente eles descobriram que o que eles estavam produzindo eram armas químicas! E ele e os outros cientistas não tiveram dúvida: destruíram o laboratório e fugiram clandestinamente do país na mesma hora.

E encadernava, e me olhava, e meus olhos se arregalavam frente aos dela.

- E aí tinha CIA, FBI, não lembro qual era, atrás deles. Eles foram pra Europa. Viveram escondidos em vários países, e foram indo para o Leste. Passou fome, tudo.

Nessa hora entraram duas meninas com um extrato de banco da mãe de uma delas para ser xerocado. E a história se interrompeu, assim como vou interromper para você, caro leitor, pra que não fique cansativo. Em breve, mais.


sexta-feira, 20 de março de 2009

Cidade e arte

Saí no metrô Anhangabaú as 21:15hrs de uma quarta-feira e pus-me, inadvertidademente, a caminhar na direção radialmente oposta àquela pretendida. Pretensão esta de entender a cidade, de saber lidar com ela.

É evidente que neste momento eu não tinha percebido que estava indo para o lado errado, mas sentindo algo de estranho no trajeto, olhava para cima, me localizava pelos edifícios. Meu quebra-cabeça urbano lutava para recalcular a rota, inseguro. Perguntei, ninguém sabia, quatro vezes.

Girei 180° e segui percurso, porque este tanto eu deduzi. Caí na rua errada, me vi cercada de pessoas que me viam como alienígena. Meus sapatos pareciam cobiçados nos olhares atentos e direcionados. Dei meia volta e parti num caminho que permitisse o sucesso da empreitada.

Um carro de polícia apareceu me seguindo e me senti segura, escoltada. Andávamos apenas eu e a viatura numa viela de pedestres. O carro parou, um homem em prantos foi jogado na rua. Mudei de direção novamente.

Contornei, cheguei. Cheguei e entrei num espaço cultural num hotel reciclado.

Surgiu um flautista. Surgiu um grupo de dança, motivo de toda a história. Surgiu movimento, vida, ocupação artística do espaço. Meus sentidos foram estimulados pela textura, pelo som e pelo que se criava ali. Um estímulo bastante contrastante com a experiência imediatamente anterior.

Em tudo isso, me vi perplexa. Não sei ainda analisar ou emblematizar esta situação, mas a caricaturização da vivência urbana me surpreende sempre.

Foto tirada por mim, lá.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Aos formandos


Continuando na onda de posts autobiográficos...

Não sou formanda, professora, paraninfa ou patrona, mas me atrevo a dizer algumas palavrinhas pra turma que era minha que foi embora.


Passamos cinco anos juntos (ou quase juntos) e passamos por uma porção enorme de coisas.

Não vou listar os eventos inesquecíveis e engraçados porque isso fica a cargo da Doda e do Gui no discurso, e da Cá nas fotos. E por mais que eu ainda tenha o TCC pela frente, foi com vocês que eu aprendi a pensar como arquiteta, a não querer ser arquiteta, a descobrir que sou.

Desejo a vocês muita sorte no mundo de gente grande, que vocês arrumem empregos legais, abram bons escritórios, e principalmente, façam bons projetos. Não sei quem vai ser arquiteto, urbanista, designer, historiador, ator, malabarista, político ou dono de restaurante, mas espero que vocês se dêem muito bem no que quer que forem fazer, porque são projetos de qualquer maneira.

Espero ainda, que a gente olhe daqui há vinte anos e tenha muito orgulho de falar que estudou com tal ou tal pessoa, que seja um de nós que, disposto a melhorar a cidade, conseguiu. Que a gente tenha orgulho de ter sido turma cobaia, de uma escola que virou muito boa. Que voltemos lá para dar aula e dividir nosso conhecimento.

É bom que vocês não esqueçam de nós, os retardatários, e venham ajudar a gente a se formar, como eu ajudei um pouco vocês!


E pronto. Quero ver todo mundo de marrom no sábado, porque é a cor da arquitetura, como acabei de descobrir.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Interlúdio

Não sou muito partidária de posts autobiográficos, mas uma pequena intervenção pessoal se faz necessária.
Eu gosto muito quando fazemos coisas aparentemente sem foco/objetivo claro e elas acabam gerando frutos inesperados e bons.

Há três anos, acordei cedo numa segunda-feira pra ajudar um amigo com um exercício da faculdade dele. Me diverti maquiando e vestindo as pessoas.

Três anos depois, frutos vieram. Maiores, melhores, desafiadores e que fizeram meu começo de ano muito feliz. Fica este vídeo velho como homenagem. Sendo um pouco mais concreta, fiz a direção de arte e o figurino de um filme muito legal de pessoas muito legais.

Claro que fiz muitas outras coisas além do Blow Up que contribuíram para que eu acabasse no filme, mas essa foi talvez a mais despretenciosa.

Meu muitíssimo obrigado aos que apostaram as fichinhas em mim. Espero ter alcançado as expectativas.

Malditos! Despressurizados!

Zeit to the Geist, breve.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Calçada da Fama / Fácil de calçar / These boots are made for waking



Meu dia começou com um quiz sobre sapatos, e deduzir no pé de que celebridade eles estavam.

Belos pisantes. Acordou meu apetite e fui fuçar por aí.

Pretendia simplesmente admirar os do Rem Koolhas (que eu prefiro muito mais ver sapateando do que edificando) mas quando eu menos esperava, caí em um dos sites mais fabulosos do mundo!

Simplesmente um museu virtual de sapatos! Holandês, fantástico.

Você pode pesquisar por cor, por designer, por foco (salto, sola, perna, etc), material, tipo muito mais!

Ai que dia feliz! Que deleite!

Uma breve seleção de calçados supimpas:
Rem Koolhas – United Nude
Inspirado em uma cadeira de Charles e Ray Eames

2in1 zipper (Nat-2) leather
Stephen Yeung Sebastian Thies

Sword heel
John Fluevog

La Premiere


Wings
Roswitha van Rijn



Golden Heel

Boots
Wopke Grobben


Feathers
Marlie Witteveen (Lola Pagola) Marijke Bruggink (Lola Pagola)

Única coisa ruim: só tem um único sapato da Vivienne Westwood, e bem sem graça. No site dela tem a coleção deste ano. Sem graça também perto do que ela já fez. Sorte de quem viu a exposição dela no Centro Cultural Britânico ano passado! Eu sei que eu vi!

Também não tinha a Melissa da Zaha Hadid lançada no SPFW da temporada passada. Mas esse é só ver na loja ou
aqui.


As imagens são do museu.