quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Vamos falar de design também?


Esse vídeo era parte da instalação da Alemanha na I Bienal de Design de Londres, feita por Konstantin Grcic e Olivia Herms, batizada "Utopia means Elsewhere. Sentar naquela sala escura, quentinha, com esse fogo virtual de fato era transportador para outro estado de espírito.

Acompanhando a semana de design de Londres em setembro desse ano, fui entre outras coisas à I Bienal de Design deles e a duas feiras mais comerciais, mas de objetivos diferentes. Eu vi um monte de coisa bacana, mas cuja serventia principal para mim, e que acho válida colocar para quem se interessar, foi pensar o papel e a situação do Brasil frente ao design e a esse tipo de evento. Infelizmente eu demorei para sentar e escrever e nesse meio tempo perdi minhas anotações, mas algo de bom deve sair ainda.

A Bienal de Design, na Sommerset House, tinha como tema “Design e Utopia” e foi feita nos moldes de estandes de países, o que é interessante, mas sempre deixa a coisa toda meio esquizofrênica porque no fim a curadoria de cada lugar faz o que bem entende. Bom, eram 37 participantes e o Brasil não era um deles (de América do Sul, só o Chile, e apresentando a releitura de um projeto pré-golpe lá, salvo engano de 1973 mesmo). Resumidamente, a maioria das propostas era bem conceitual, não lidava exatamente com produto ou gráfico, mas com uma forma de pensar o mundo, assumindo um papel crítico talvez mais comumente (anteriormente?) associado à arquitetura ou à arte.

A London Design Fair, num lugar bacanérrimo chamado Old Truman Brewery, era super de vendas, e focada no design autoral, marcas pequenas, artesanais, muita gente que parecia estar começando. Se fosse comparar (que nunca é bom), seria como a MADE daqui. Tinham estandes de marcas e estúdios, e também institucionais, de países de fora do Reino Unido que trouxeram uma amostra que eles consideraram representativa de design para lá (como Itália, todos os escandinavos, China, Índia e mais alguns – de novo sem Brasil e, nesse caso, nenhum outro da América Latina). Lá ficou claro que a nossa produção não está devendo NADA para nenhuma dessas, está aliás pareada para cima. Formalmente, os materiais mais frequentes eram a madeira, quase sempre clara e sem tingimento, metais, tecidos naturais em cores neutras. As linhas eram bem leves, mínimas. Não tinha nada de muito novo, mas coisas interessantes, a maioria de bom gosto, e uma coisa bem intimista desde a proposta da feira até o que os produtos sugeriam como domesticidade.

Já a 100% Design, uma feira bem tradicional num lugar gigante chamado Olympia, era da indústria grande mesmo, e tinha de tudo: mobiliário residencial, corporativo, revestimentos, cozinha, banheiro, tecnologias... Se fosse comparar (continua não sendo bom), seria o que a High Design, me parece, pretende ser. Lá de novo tinha uma mistura entre marcas e estandes institucionais, mais uma vez com China, Itália, além de Eslovênia, Argentina (o único da América do Sul) e outros. E também de novo não achei que nossa produção devesse nada, fora na questão tecnológica. Ali já tinham plásticos, misturas, cores fortes. Uma pegada mais modernista mesmo estava só nos corporativos, o resto assumia uma coisa mais revivalista de estilos, regionalismos e o que talvez se chame de tendências (tenho dificuldades com esse conceito). Tinha um setor mais de luxo separado com design assinado, o que me levou a crer que a maioria das outras coisas expostas lá tinha um custo mais ou menos acessível.

Falei tudo isso porque o que ficou para mim foi um grande incômodo: se a nossa produção está de alto nível, se o que temos a oferecer é diferente, interessante, POR QUE NÃO ESTAMOS LÁ? Por que é que nem as iniciativas privadas e, mais difícil, mas no fundo mais grave e importante, uma política econômica e industrial pública, não estão interessadas em estimular nossa presença nesses espaços? Se estamos em crise e precisamos estimular a produção, se estamos baratos para esses lugares, por que essa não é considerada uma estratégia?

O mais triste de tudo isso, me parece, é que se houvesse esse interesse, toda a nossa produção só teria a ganhar e, com isso, a questão que me é mais cara, de qualificar a produção interna para a grande escala, acessível à população brasileira de maneira ampliada, seria mais viável pela construção de uma cultura de projeto qualificada
.
Enfim, não tenho respostas, mas é um debate a ser feito.

Os links para quem quiser fuçar:
Bienal de Design de Londres - http://www.londondesignbiennale.com/
London Design Fair - http://www.londondesignfair.co.uk/
100% Design - http://www.100percentdesign.co.uk/

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