A peça Gota d'Água a seco, em cartaz pelo Brasil, merece ser vista.
Claro que ela tem suas falhas, mas nem vou falar quais acho que são porque quem for que veja; vou falar do que ela tem de forte. Primeiro que tecnicamente está muito impressionante: o figurino, o cenário e a luz são lindos. E não são lindos estaticamente, são lindos por como são usados e apropriados de formas diversas ao longo da peça inteira. Para dizer que a direção é demais.
O texto, todo em verso, a música... Bom, é Chico, é foda. Mas o que a peça quer dizer, quarenta e um anos depois com a mesma força, é onde está a paulada. Ela tem muitos níveis, claro. Alguns que vêm da música, alguns que vêm da história, alguns que vêm de como os dois se relacionam. Fala de Brasil, de anos 1970, de ditadura, de luta de classe, de uma história de amor, de uma tragédia grega. Mas o que me pegou pela espinha é que ela fala da mulher: Joana. Da mulher que trabalha e cuida dos filhos e luta por moradia e toca o terror com seu poder e ainda assim parece que só perde. E da mulher que ama e seduz e é forte e fraca e é humilhada e fica para trás. Especialmente a que fica para trás.
Saí de lá super mexida e pensando em outras peças que saíram esses últimos tempos – Garrincha e Cartola – que têm suas qualidades e não têm quase nada a ver com essa, salvo que tratam da história de um cara que saiu de um lugar muito pobre, tinha um talento especial e cresceu na vida, com seus trancos e barrancos, mas superou ali uma condição e ganhou em algum momento o devido reconhecimento. Assim como Jasão, o homem da Gota d’Água. E eles três deixam uma mulher para trás em algum momento, maltratam, são alcoólatras, traem, e tudo isso é meio romantizado ou relativizado nas outras duas encenações porque eles são, afinal, os heróis. Só que o Chico não está falando do Jasão, está falando da Joana. E a Laila Garin segura uma carga de emoção ali, em cena a peça inteira, que olha.
É uma peça linda, forte, sobre a condição feminina num certo momento, que ecoa para o contemporâneo. E em tempos de golpe atrás de golpe, de levante reacionário mundial, ela ganha uma pertinência por sua própria importância histórica.
Essa fota não é minha, é divulgação que achei na interwebs.
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