Eu vi esse quadro em setembro do ano passado na Tate Modern e me senti imediatamente atraída, mesmo sem haver nada nele que justificasse exatamente o porquê. A combinação dessa frase, tão enigmática, com essas cores, essa vista idílica, me fascinaram. A plaquinha ao lado me informou que ele se chama The Music from the Balconies, do Edward Ruscha, de 1984, e que essa frase foi tirada do romance High-Rise, do J. G. Ballard, de 1975. Saí de lá direto para uma livraria, e na capa do livro descobri que ele também tinha virado filme.
O texto é fácil de ler e difícil de digerir, mas recomendo vivamente para arquitetos e urbanistas por ser, em última análise, uma distopia do projeto moderno, um Pruitt-Igoe num universo de brutalidade em todos os sentidos, um conto sobre a deterioração da sociedade banhado em surrealismo. Mais especificamente, é sobre um arranha-céu na periferia londrina com 2000 habitantes que aos poucos abraçam uma vida primitiva de luta de classe e por sobrevivência, confinados por escolha em uma enorme casca de concreto armado.
Terminei achando bom, mas ele cresceu mesmo nos dias seguintes. Tudo à minha volta me remetia à história, de repente parecia tão claro que estamos sempre no limite da civilidade, seja por consequências mal calculadas do momento em que vivemos, seja por fugas deliberadas em âmbito pessoal.
Fui então ao filme, de 2015. Foi chato de achar, e tem um motivo: não é tão bom. Há muitos pontos positivos e outros tantos negativos, mas o maior pecado mesmo talvez tenha sido perder a violência delicada que esse quadro captou. Em todo caso, achei muito bonito ver mais a fundo como uma ideia, uma história, se desdobra em diferentes mídias ao longo de décadas e ligar esses pontos.