sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Com uma doença tropical na Suécia

Minha irmã se mudou para a Suécia para fazer mestrado. Uma semana lá, aconteceu a série de eventos que ela colocou no texto que posto a seguir, um dos melhores que li nos últimos tempos. É longo, mas recomendo sinceramente!


Então eu estava vendo uns pontinhos pretos. Tá, vamos ver se passa. 3 dias depois, não passou, piorou. Tá, estou com toxoplasmose de novo. Fui na enfermeira estudantil.

EU: Oi! Então, eu estou vendo uns pontinhos pretos, e eu tenho toxoplasmose, então eu precisava que alguém olhasse no fundo do meu olho e me dissesse se eu tenho que marcar um horário num oftalmologista...

-Mas como você sabe que é toxo?
-Eu já tive antes. É realmente importante entrar cedo com os antibióticos, então precisa garantir.
-Hm... Isso a gente não consegue fazer aqui. Deixa eu pensar... Vai no närakuten.
-Como eu chego lá?
-Sai daqui, volta para o prédio do hospital e desce a escada à esquerda.


Sair... Hospital... Escada.. Esse é o refeitório. Tá, sobe essa escada. Hospital... Hospital... Aqui? Não. Aqui? Não. Saco, cada bloco só tem o mapa do próprio bloco, onde é essa birosca? Ta, volta tudo, sai do prédio. Vou achar a entrada principal. Olha, um Pressbyraan! Deixa eu aproveitar para comprar pilha e selo. Tá, e agora? Ah, Informações!


EU: Como eu chego no närakuten?
-Sai do prédio e pega a escada à direita.

Sai do prédio... Que droga de instrução é sai do prédio quando o que eu quero ta dentro do prédio? Direita. Escada... Escada... Não tem escada! Volta. "Närakuten, acesso de carros". Ok, a essa altura já ta valendo.


EU: Oi, eu estou procurando o närakuten.
-Na verdade é lettakuten, mas é aqui.
-Ah. Então, é que eu tou com toxoplasmose.
-Mas como você sabe disso?
-É que é recorrente. Minha mãe teve enquanto ela estava grávida, então eu tenho nos olhos, mas não é curável, só dá para tratar a cada crise.
-Hmmm... Não sei se a gente pode fazer alguma coisa aqui.
-A enfermeira estudantil mandou aqui.
-Deixa eu pensar... Toxoplasmose!

É, moça, toxoplasmose. Você é enfermeira de triagem no pronto-socorro de um hospital universitário e nunca ouviu nada mais estranho?

Enfermeira: Hmmm... Vai na seção de infecção. Mas antes passa no caixa.

100 reais. Ta ótimo.

EU: Oi, estou procurando a infecção.
-É aqui. Espera que a gente chama pelo nome.


Lalala...

Enfermeira: Luisa?
-Eu!
-Por que você está aqui hoje?
-É que eu estou vendo uns pontos pretos, e eu acho que é toxoplasmose. Porque eu tenho mesmo no olho, e é recorrente.
-Há quanto tempo você está vendo isso? Ontem?
- Quinta-feira.
-M-hm. Tem febre?
-Não.
-Dor de cabeça?
-Não.
-Se sente bem da barriga?
-Sim.
-Então seu único sintoma são uns pontinhos pretos?


Eita, rapaz, não tão me levando a sério...

-Sim, mas é que se for toxo é importante tratar cedo. Eu já tive várias vezes, eu sei reconhecer.
-Ok, senta de novo e a gente te chama assim que possível.

Uh. Ferrou. Assim que possível em pronto-socorro? Já era...

Residente: Luisa?
Uau, que rápido!
Residente: Nessa sala. Então, o que você tem?

Ai, Jesus... Dá próxima vez eu trago um gravador! Pontinhos pretos, blablabla.


-Residente: E como são esse pontinhos?

Uau! Alguém me leva a sério!

EU: Tem como que um fio preto, maior, que mexe o rabinho quando eu mexo os olhos... E umas bolas cinzentas em volta.
-Se mexe... Hm. E você tem desde quando?
-Desde que eu nasci. Hoje se aceita que, quando dá nos olhos, é contaminação materno-fetal.
-Então sua mãe teve?
-Ela não notou, mas às vezes passa como uma gripe... E teve um surto na escolinha da minha irmã.


Aí ela parou de tentar parecer uma médica séria e resolveu satisfazer sua curiosidade estudantil.


-Residente: Então quer dizer que não tem como tirar dos olhos?
-Não, dá para tirar do fígado, do cérebro, não dos olhos.
-Claro, claro, esses outros órgãos eu conheço, por isso que eu estranhei os olhos. Só por curiosidade, no Brasil você trata isso com um infectologista ou um oftalmologista?
-Oftalmo.
-E o que ele te dá?
-Bactrin F e Methicorten.
-Bom... O único jeito de ter certeza é olhando dentro dos seus olhos, e eu ñ tenho como fazer isso aqui. A gente tem um setor de oftalmologia aqui, mas talvez você devesse ir para o Hospital dos Olhos de St. Erik.
-Escuta, eu fui na enfermeira, estudantil, ela me mandou para o lettakuten, fui no lettakuten, eles me mandaram para a infecção...
-Claro, claro! Se você precisar ir para outro lugar, a gente paga o táxi para você, e você leva um papel com tudo o que você já me disse, para não ter que repetir. - uau, e não é que estamos mesmo num estado de bem-estar social? - Eu vou só falar com meu supervisor, espera um pouco.


Lalala...

Residente: É, você vai para o St. Eriks. É em Raadhus. Sabe onde é?
-Não...
-Onde você mora?
-Solna.


-Então é fácil, você pega o metrô na volta. Agora uma enfermeira vai te acompanhar para te ajudar com o taxi.


Puxa! Uma vez dentro do sistema, como eles são cuidadosos!

-Enfermeira: Pronto, você usa esse cartão para pagar o táxi. Espera aqui e fica de olho, na hora que você o vir o taxi você sai.


Ok... Puxa, que fome. Eu não almocei. Mas também não quero comer uma marmita de macarrão frio no colo numa sala de espera... Vou tomar um Toddynho, comer umas bolachas. Espera, espera... Meu taxi! Não, é daquele velhinho... Espera... Meu táxi!


Taxista: Você é a Luisa War... War...
-Isso, sou eu.
-Ah, ta certo. Para St. Eriks, então.

Quanto será que vai custar esse taxi? Vai ficar bem em conta mesmo a consulta, incluindo isso! Nossa, eu tinha perdido a noção de como aqui é longe da cidade. Esse motorista ta meio fedido. Pelo menos a música é boa. Rabeca, acordeon... Muito típico! Caramba, como é longe... Olha, o metrô! Preciso prestar atenção no caminho, agora. Chegamos.
A atendente está chamando o 589. Pegar uma senha. 590! Que sorte!


Caixa: 590?
-Oi, me mandaram do Hospital de Karolinska em Huddinge.
-Você tem a nota fiscal?
-Ta aqui.
-Ok, espera que vão te chamar pelo nome.

Ainda bem que eu trouxe o jornal...


Residente2: Luisa? Luisa War... War...
-Sou eu.
-Senta aqui, vamos dar uma olhada.


Uma daquelas máquinas de medir grau no meio do corredor. Ei! Essa máquina doida me assoprou! Eu nunca tinha sido assoprada por um medidor de grau!


Residente2: Pode entrar aqui.


Sento em frente de um olhador de fundo de olho. Ele olha, olha, olha... Um olho, o outro... Olha... Olha para a a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, agora bem em frente...

Residente2: É, você vai ter que ser vista por um oftalmologista.

E você quem é? O zelador? Roubou esse avental da cesta de roupa lavada?


Dilatar a pupila. Arde, arde, arde, arde! Credo! Esse troço é pior que o nacional! Sala de espera. Não dá mais para ler jornal. Na TV, Barrados no Baile. O som é muito baixo, e a moldura da TV corta metade da legenda. Barrados no baile com metade das falas. Yipi. Espera, espera, espera...

Médico: Luisa?

Um médico com cara de indiano. O sueco dele é difícil de entender, o inglês é pior. Sentar de novo naquela cadeira. Olhar bem para a luz. Bem para a luz. Ainda bem para a luz. Ei, isso doi, sabia? Literalmente doi!

Médico: É, é desconfortável, eu sei.


Olha para cima, para baixo, esquerda, direita, diagonais...


Médico: Espera, eu vou chamar um colega.


Caramba, galera! Eu cheguei aqui com o diagnóstico e o tratamento, só preciso que alguém me faça uma receita!

Chega um médico mais velho, acompanhado de uma mocinha, uma sexto-anista que vai ter o privilégio de ver uma toxo ao vivo. Um monte de conversa em sueco. Olha aqui, olha ali, a volta toda...


Médico: Ali perto da fossa lacrimal?
Médico2: Isso, ali tem um foco vivo.
-E ali em cima?
-É duvidoso, mas o da fossa é certeza.
-Dá corticoide?-
-Não, está muito longe do nervo, não precisa...
EU: Meu médico no Brasil me dava corticoide!
Médico 2: Não, para uma lesão pequena assim e tão longe do nervo não tem necessidade. - Para o primeiro médico - Você viu o olho esquerdo dela?
Médico1: Não, a queixa era só no direito...
-Vamos olhar o esquerdo.


Luz, luz, luz! Que luz horrível! Que crueldade! Isso ainda doi, viu? O Dr. Bambambã vai embora com a mocinha. O Dr. Indiano se digna a ver meu outro olho.

Médico 1: Como você enxerga com esse olho?
-Ah, o terço esquerdo é meio embaçado...
-Só isso?
-É, eu sei, meu médico no brasil fica sempre surpreso como eu enxergo bem.
-Sim... Com essa quantidade de tecido cicatrizado... Enfim, aqui está sua receita. É uma cápsula quatro vezes por dia, manhã, almoço, tarde e noite, e uma gota, quatro vezes por dia, no olho direito.
-É diferente do que eu tomava no Brasil... Eu tomava Bactrin...
-Sim, é assim que se faz nos Estados Unidos, e pelo jeito no Brasil também. Na Europa o procedimento é esse. Você vai em qualquer farmácia e dá seu RG, a receita já está online.

Uau!

Ufa, acabou. Quer dizer, até o retorno semana que vem...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

...Ah, tem coisa que é mal gosto mesmo!



Essa semana resolvi dar uma organizada nas pastas do computador e achei muita que eu nem me lembrava.

A mais divertida foi esta foto, tive que dividir este momento porque é tá dificil guardar só para mim...

É... como arquiteta não consigo deixar de ser critica em diversas situações. Arquitetos sempre observam demais os espaços... Inevitável!

Chega uma hora que a gente desiste de tentar entender as pessoas que acham que são arquitetas, as que acham que são engenheiras, as que acham que são decoradoras... O melhor é rir das coisas!

Vamos logo ao assunto.

Fiz uma viagem há um tempo atras e fiquei em um albergue. Já fiquei em albergues muito legais, mas esse deixou bem a desejar, viu...
A pior lembrança que tenho é a do banheiro. E tá ai a foto que eu achei hoje do pior ângulo dele.
"DECORARAM" a banheira do banheiro mais sujo e caindo aos pedaços que ja vi!
Uma mata de plantas e animais selvagens de PRÁSTICO!




Tenho certeza que vendo isso você pensou: MEODEOSSSSSSSSS!!!!!!!!!!


É... Eu também!!! E juro que ao vivo é bem PIOR!

Sem mais comentários... O banheiro não merece!

Gracias!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Marca Tinta

Escreveu 3 palavras, disse que era um poema. Voltou, rasgou o guardanapo com as palavras e pediu que esquecesse tudo. São só 3 palavras, fácil de lembrar.

Sorriu mais tarde, estancou a ferida. Só havia uma única lembrança.

Fez as malas, secou a mancha do vestido; vinho tinto. As palavras estavam fora de ordem. Não pediu perdão.
O trem, o rio. Partiu.

O dedo na ferida para forçar a lembrança. A porta aberta e a garrafa no chão.
Andou por 6 rajadas de vento e parou. Fechou os olhos e sentiu a mancha no vestido.

Chegou no pior momento, outono. Esfregou mais uma vez a mancha do vestido, costume instantâneo.
O endereço se misturava com as palavras e o remorso.

A cicatriz já não coçava mais, só indicava uma ausência abismal. Recordava o motivo, menos as palavras. Saiu para procurar.

Toda vez que usava o vestido manchado tentava reordenar as palavras, o movimento final. Voltou para procurar.

Ela, de vestido cinza, sapato vermelho e uma mancha. Ele, de jaqueta jeans e uma cicatriz.
Se viram, se olharam, se lembraram: Inevitável, começo e fim.